Como devemos iniciar um ano? Segundo reza a lenda, pode ser a urbana quanto a rural, iremos perpetuar no ano o que fazemos no primeiro dia do ano. Será mesmo? Então terei um ano “punk” e frutífero, pois iniciei o ano na companhia de ótimos amigos e ainda com a reflexão de um belíssimo filme.
Assisti, ontem, ao filme lindíssimo “O jardineiro fiel”. O filme tem uma bela fotografia e ótimas atuações, mas “o quê” o faz ser um bom filme? O que este filme me permiti ver ou sentir que os outros não? Será que o roteiro é o diferencial?
Ainda questiono-me, não recentemente e sim a alguns anos, de como um filme que me incomoda tanto a ponto de me comover, fazer chorar e inquietar meus sentimentos e sentidos e, mesmo assim, ser um bom filme? Pode ser um ótimo filme?
Apesar do questionamento, sei a resposta e não torno tal questão retórica e sim real. O fato é que não refiro-me a qualquer filme e sim aos filmes de arte. Exato! A arte na função de mobilizadora de sentimentos e atitudes. Arte enquanto elemento vivo e que vive! Vive para nos fazer pensar e fazer-nos olhar para o lado. Ou mesmo para nos fazer olhar para além de nossos “umbigos”* . A arte que nos fazer olhar além, muito além de nós mesmos e dos nossos mundinhos.
O filme “O jardineiro fiel” é um desses filmes que nos fazem pensar! E não por nos transporte para uma outra realidade distante da nossa de brasileiros, ocidentais e “globalizados” [Eca! Aqui eu faço cara de nojo!]. E sim por nos fazer pensar enquanto homens e mulheres, indivíduos, agentes políticos, históricos e sociais. Repensamos como seres humanos!
O que nos faz crer que somos humanos e não mais animalesco. E ainda crermos que os animais, estes que supostamente são tão irracionais, porém são mais zelosos nos bandos, nas matilhas ou com sua cria em comparação com alguns (supostamente) humanos. Sempre acreditei que os sentimentos nos faziam distanciar dos animais e não o raciocínio. Sempre achei que pensar e sentir o próximo como meu semelhante, meu par, meu compatriota universal me fazia humana, humanitária ou humanista, como quiserem. E não a simplesmente a ação de pensar, de racionar...
Contudo ao ver que nos esquecemos das nossas semelhanças e que pensamos apenas no eu, sinto meu coração correr e minha alma se despedaçar. O que somos nós?? O que pensamos nós? O que sentimos? Por quê somos assim? Apesar do impulso, não irei aqui apelar ou suscitar qualquer discurso religioso, mas sim apelarei para os sentimentos e na concepção de humanidade! O dicionário do Houaiss defini:
Humanidade: substantivo feminino.1) conjunto de características específicas à natureza humana - Ex.: a animalidade e a humanidade residem igualmente no homem; 2) sentimento de bondade, benevolência, em relação aos semelhantes, ou de compaixão, piedade, em relação aos desfavorecidos;3) o conjunto dos seres humanos;4) qualidade de quem realiza plenamente a natureza humana. - Ex.: adquiriu mais humanidade ao tornar-se mãe da humanidade;
Compomos a humanidade! E não apenas um conjunto de homens. Nos vejo como sujeitos que atuam e lutam pela vida! Estou falando de vida, de viver e melhor viver. Digo da ação de mudar o mundo que nos cerca e sermos humanos. E, felicito-me ao ler a definição do Houaiss, que afirma: “sentimento de bondade, benevolência, em relação aos semelhantes, ou de compaixão, piedade, em relação aos desfavorecidos“. Somos senhores das nossas vidas e não marionetes do destino. Não somos como a folha que parece não ter destino ao voar ao vento e cair na lama, na água ou na grama fofa. E ao ver o filme “O jardineiro filme”, indaguei: onde está a nossa humanidade?
Priscila
Rio de Janeiro(RJ), 02 de janeiro de 2007
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* Todas as vezes que penso em umbigo lembro de uma crônica... “Meu mundo é o meu umbigo” de Carolina. Infelizmente não tenho mais. Vou buscar com a autora!
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